Update sobre imunobiológicos
Inovação, transparência e empatia são os pilares norteadores para a comunicação em saúde neste ano
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O início e o desenvolvimento da maioria das doenças inflamatórias estão intimamente ligados ao sistema imunológico. Para o tratamento mais assertivo dessas doenças, a imunoterapia – baseada em produtos imunobiológicos – vem exercendo um papel essencial há mais de duas décadas. 

O que são medicamentos imunobiológicos?

Primeiramente, existe o grupo de medicamentos biológicos, estruturas de caracterização molecular complexa, produzidos por organismos vivos, como células e tecidos por biotecnologia e outras tecnologias avançadas. Eles representam um componente muito relevante da medicina moderna desde as aprovações da FDA (Food and Drug Approval, USA) do primeiro medicamento recombinante, a insulina (Humulin®), em 1982, e do primeiro anticorpo monoclonal terapêutico (mAb), o muromonabe-CD3 (Orthoclone OKT3®), em 1986. Existem vários tipos de biológicos, tais como (Figura 1): biotecnológicos (ex: tecnologia de DNA recombinante), probióticos, derivados do plasma, bacteriófagos, terapia gênica e os imunobiológicos.2

1. Prevenir doenças, como a primeira forma de imunoterapia: as vacinas;4
2. Bloqueio de vias e substâncias relacionadas ao desenvolvimento de doenças;3
3. Ação direcionada e/ou combinada com outros tipos de terapia contra alvos celulares específicos (como ex: anticorpos monoclonais conjugados a drogas – targeted drugs), causando morte celular, redução da ativação e diferenciação ou limitação da migração até tecidos;3
4. Interação com etapas da resposta imunológica, podendo reduzi-la ou estimulá-la.3

No artigo 5 do Ybrida Talks, daremos mais detalhes sobre medicamentos imunobiológicos/anticorpos monoclonais, sua engenharia e/ou combinação com outros tipos de terapia, que estão na vanguarda da pesquisa biomédica e podem ser utilizados para tratamento de condições médicas sem opções terapêuticas eficazes ou com oportunidades de melhoria.

Quais medicamentos imunobiológicos são aprovados no Brasil?

A seguir, comentamos sobre alguns imunobiológicos aprovados no Brasil, e os organizamos nas Tabelas 1 e 2, categorizados por indicação (câncer e doenças autoimunes):

Imunoterapia no câncer: estratégias inovadoras e mecanismos de ação

Por décadas, radioterapia e quimioterapia têm sido os pilares do tratamento do câncer. Embora essas abordagens possam ser eficazes, elas também afetam tecidos saudáveis, causando efeitos fora do alvo.

Tabela 1. Imunobiológicos para o tratamento de câncer aprovados no Brasil.9

Além disso, terapias ainda mais recentes e inovadoras unem a quimioterapia aos anticorpos monoclonais, como os Anticorpos Conjugados a Drogas (ADCs) que são anticorpos monoclonais ligados a agentes citotóxicos. Essa conjugação, como no caso do último imunobiológico da Tabela 1, permite que o medicamento seja direcionado especificamente às células tumorais, liberando a droga tóxica diretamente no local desejado, aumentando a eficácia e reduzindo os efeitos colaterais sistêmicos, como pode ser visualizado no vídeo abaixo (Vídeo 1).7 

 

 

 Existem também os anticorpos biespecíficos, que são anticorpos projetados para reconhecer simultaneamente dois antígenos diferentes. Por exemplo, o epcoritamabe é um anticorpo biespecífico que se liga ao CD3 das células T e ao CD20 das células B, recrutando células T para atacar células B malignas no linfoma difuso de grandes células B.8

Entretanto, a imunoterapia contra o câncer não é isenta de desafios, como resistência tumoral e efeitos adversos imunológicos. Esses tratamentos podem causar reações inflamatórias excessivas, afetando órgãos e tecidos saudáveis, o que torna crucial o acompanhamento médico constante. 

Imunoterapia no tratamento de doenças autoimunes: Uma Abordagem terapêutica delicada

As doenças autoimunes, como artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico e esclerose múltipla, ocorrem quando o sistema imunológico ataca erroneamente os próprios tecidos do corpo. No entanto, imunoterapias, como  inibidores das citocinas pró-inflamatórias TNF (fator de necrose tumoral) e IL-6 (interleucina-6), e anticorpos monoclonais  como o rituximabe, têm mostrado eficácia no controle dessas condições. O uso de medicamentos imunossupressores, que modulam a resposta imunológica, reduz a inflamação e a progressão das doenças autoimunes.10

Uma questão importante ao aplicar imunoterapia em doenças autoimunes é o equilíbrio entre  suprimir a atividade imune, para prevenir o ataque aos tecidos do próprio corpo, e não comprometer a defesa contra infecções. Isso exige uma abordagem personalizada e a constante avaliação dos benefícios e riscos do tratamento escolhido pelos médicos.

Tabela 2. Imunobiológicos para o tratamento de doenças autoimunes aprovados no Brasil.9

 

 Esses tipos de terapia não ficam restritos ao câncer ou doenças autoimunes, conforme comentado acima. Também existem medicamentos imunobiológicos para outras condições, tais como: doenças raras (ex: Eculizumabe – hemoglobinúria paroxística noturna); esclerose múltipla (Natalizumabe)¹¹, osteoporose (ex: Denosumabe)¹², doenças respiratórias (ex: Mepolizumabe – asma eosinofílica grave e outras doenças respiratórias)¹³, doenças oftalmológicas (DMRI – ex: aflibercept), enxaqueca (ex: Fremanezumabe)¹⁴ (Figura 2), entre outras.

 

O desenvolvimento de biológicos e biossimilares segue em ascensão, trazendo esperança para diversas áreas médicas, mas como a população pode ter acesso aos medicamentos imunobiológicos no Brasil? Os fármacos imunobiológicos não são comercializados, de rotina, nas farmácias. São medicamentos de muito alto custo. O acesso à maior parte deles é prevista em Diretrizes Terapêuticas do Ministério da Saúde, sendo, portanto, disponíveis através da atenção farmacêutica especializada do Sistema Único de Saúde (SUS) ou, também, são de custeio obrigatório pelos Planos de Saúde, sempre que observados critérios médicos.15

Grandes oportunidades para o mercado farmacêutico no Brasil

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou, em agosto de 2024, um financiamento de R$1,39 bilhão para a indústria farmacêutica nacional. Esse montante será destinado ao desenvolvimento de medicamentos inovadores e acessíveis, abrangendo áreas como diabetes, câncer e outras condições crônicas de alta relevância para a saúde pública.16

Os medicamentos biológicos representam um segmento em amplo crescimento para o mercado farmacêutico, visto que em 2023, dentre os dez medicamentos que geraram mais receitas, sete foram da classe dos imunobiológicos, sem contar com a vacina contra o vírus da COVID-19.17 Segundo um relatório da IQVIA 2023, os medicamentos biológicos já representam cerca de 30% do mercado farmacêutico brasileiro.18

De olho nesse contexto, o mercado brasileiro de medicamentos biológicos e biossimilares tem vivenciado um crescimento significativo, impulsionado por investimentos estratégicos e iniciativas governamentais. Em fevereiro de 2025, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços anunciou que a matéria-prima (IFA – insumo farmacêutico ativo) para a fabricação de medicamentos destinados ao tratamento de doenças autoimunes, como o imunobiológico Infliximabe, será produzida integralmente no Brasil pelo Grupo Bionovis. Essa iniciativa visa reduzir a dependência de insumos importados, fortalecer a indústria farmacêutica nacional e garantir maior autonomia na produção de tratamentos essenciais. Além disso, o avanço da regulamentação e a ampliação da infraestrutura de pesquisa clínica têm facilitado o desenvolvimento e a aprovação de biossimilares, tornando-os uma alternativa viável e acessível aos tratamentos inovadores já disponíveis no mercado.19 

Falando em biossimilares (medicamentos biológicos que são similares a um medicamento biológico já aprovado, com o mesmo padrão de qualidade, segurança e eficácia e desenvolvidos quando a proteção intelectual do medicamento original expira), esse setor apresenta uma grande oportunidade, visto que 118 biológicos perderão suas patentes nos próximos 10 anos, o que cria um mercado potencial de US$232 bilhões. No entanto, até então, apenas 12 moléculas possuem biossimilares em desenvolvimento, deixando mais de 100 sem concorrência, incluindo dezenas de imunobiológicos. O Brasil pode se destacar nesse segmento investindo em inovação, produção local e pesquisa clínica. Para isso, a indústria deve superar desafios como a complexidade produtiva, o tempo de testes clínicos e as regulamentações, garantindo benefícios econômicos e maior acesso dos pacientes a essas terapias. Além disso, estudos indicam que a introdução de medicamentos biossimilares pode reduzir os custos de tratamento em até 30%, beneficiando ainda mais a população.20 

Nesse cenário, Bio-Manguinhos vem discutindo, junto aos seus especialistas, médicos e Ministério da Saúde sobre o uso dos Biossimilares. Bio-Manguinhos entende que, dado as condições epidemiológicas, o aumento das terapias utilizando medicamentos biológicos é uma realidade, e a utilização dos biossimilares, seja por serem medicamentos com um custo menor, seja por atuar na regulamentação de preços, é uma oportunidade de ampliação de acesso a medicamentos de alto custo para a população. Além disso, os biossimilares garantem os mesmos resultados em termos de eficácia e segurança do medicamento originador. Os biossimilares no portfólio do Bio-Manguinhos são: Adalimumabe, Etanercepte, Rituximabe e Trastuzumabe.21

Dicas da Ybrida para o setor de biológicos e biossimilares: Estratégias de comunicação e educação médica continuada sobre imunobiológicos para Profissionais da Saúde (HCPs)

Para que essas terapias sejam adotadas com sucesso na prática clínica, é fundamental que os profissionais de saúde tenham acesso contínuo a  informações atualizadas  sobre novas terapias, diretrizes de tratamento e estratégias de manejo. Aqui citamos algumas dicas de educação médica continuada + tecnologia para apoiar os HCPs: 

1. Workshops;
2. seminários e webinars online;
3. publicações científicas que abordam as últimas inovações no uso de biológicos/imunobiológicos/biossimilares;
4. ferramentas digitais, como sistemas de apoio a decisões clínicas (SADCs) integrados ou não aos prontuários eletrônicos, aplicativos móveis, e a utilização de inteligência artificial  para personalizar o conteúdo de aprendizado, podem melhorar a eficiência da formação. 

Para os HCPs e as indústrias farmacêuticas, a educação contínua e a comunicação eficaz são essenciais para maximizar a adesão e o impacto dessas terapias. Além disso, manter uma comunicação transparente sobre os riscos e benefícios das terapias, bem como estratégias de acompanhamento pós-tratamento, fortalece a confiança e a compreensão dos profissionais de saúde.

Referências

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